Caminhar faz bem. Parece ser algo fácil de ser feito por qualquer individuo com duas pernas independentemente de sexo, cor, religião ou ideologia. Estou descobrindo que não é. Se você é jovem ou antenado, comprar um tênis de caminhada é apenas questão de entrar em uma loja. Se não é, e alem disso é heterossexual, precisa antes fazer uma pesquisa para saber o que é um tênis masculino. A impressão que fica é a de que os tênis estão mais para hermafroditas do que para unissex. Quando você resolve isso, vem a questão da roupa a ser usada para caminhar: bermudas ou abrigos. Depende da estação do ano. Se for ainda quente, cuidado para não colocar a camiseta para dentro e puxar a cintura acima do umbigo. Isto te colocaria na condição de caminhante senil. As meias devem ser brancas. É um código para informar que você está caminhando como pratica de saúde, quer você a tenha ou esta indo atrás dela. O uso de qualquer outra cor pode gerar nos outros caminhantes formais reações de justa indignação. E se você levar mesmo a serio, a necessidade de reflexão sobre este simples ato de colocar um pé adiante do outro alternadamente pode ocupar um longo tempo. Mais do que você levou para aprender a andar na infância. Meu conselho para os principiantes como eu é de que mesmo sem cumprir a totalidade dos pré-requisitos para a caminhada você comece pelo menos a andar. Ainda assim algumas surpresas ocorrerão. Você descobrirá que as meias devem ser vendidas somente aos pares (veja a imagem acima) o que te dará uma sensação similar a da iluminação búdica e provavelmente mudará os seus hábitos de consumo. No meu caso esta revelação obtida graças a uma etiqueta, fez-me pensar sobre a nova etapa da minha vida que começará dentro de escassos 56 dias: a Terceira Idade de acordo com a convenção que a estabelece diferentemente para paises como o nosso, “em desenvolvimento (leia-se terceiro mundo)” e desenvolvidos. Na verdade essa classificação é excessivamente generalizante. Minha proposta é que a gerontologia estabeleça uma alternativa a condenação por decreto a senilidade. Essa alternativa, constitucionalmente amparada permitiria que o individuo optasse entre a condição de idoso e a de usado. Filhos que somos do Século do Automóvel nossa auto-estima seria reforçada. Quanto a mim, graças a iluminação recebida de uma etiqueta de meias brancas (simbólico, não?) declaro-me USADO a partir desta data rejeitando qualquer identificação como idoso.