domingo, 27 de setembro de 2009

Refundação

As pedras de gelo caindo no copo baixo de uísque com idade para ter estado entre Ginger & Fred , presente de uma tia já falecida parecem banda sonora da MGM; o fluxo dourado do White Horse; os gatos dormindo em torno, a Pacha (au-au!) em sua casinha depois de devorar a generosa “limpeza” de um músculo bovino que passou pela panela até desmanchar; o quadro da Marilda suspenso a minha frente, a omnipresente escada de alumínio; as caixas de papelão esvaziadas e dobradas; convivem neste momento com a Egmont Overture de Beethoven. (regência de Sir Albert Boult com a BBC Symphony Orchestra em uma gravação de 1972. Num brinde solitário ergo o copo e abençôo a casa, os animais, os vizinhos (sejam quem forem) e digo para mim mesmo: Scholem Aleichem! Bem-vindo a Gravatal-SC! Este é o teu lar agora.”

Durante a abertura das caixas de mudança encontrei o Dicionário Kazar (de Milorad Pavitch, edição masculina da Marco Zero com dedicatória da Ruth de 4-6-1989:” ... Aproveita o teu talento de caçador de sonhos para apanhar alguma caça importante. És tu quem comanda; cuidado portanto com o que vais decidir ...” e completa a citação dizendo:”- É o que te manda dizer o Livro Santo. O resto está aí dentro (do livro) ... divirta-se!!” Penso: “farei o possível sem você!” E aguardo do cd as Danças Polovitsianas de Borodin que povoaram a minha adolescidade (“idade de pedra e paz “no dizer de Caetano quando ainda lúcido). Thank you! God save the BBC! E a tecnologia a que tive acesso, e as amigas e amigos que a vida me trouxe! E a uma saudade tão imensa quanto indefinida que dá vontade de plasmar em celulóide (um anacronismo em tempos de filme digital). A Stranger in Paradise faz parte das Danças.Tenho acordado as 4 da manhã., plenamente desperto depois de sonhar que estou abrindo caixas de mudança e levanto-me para abri-las. Hoje vou dormir, nem que seja graças ao Cavalinho Branco.Uma decisão: volto a bloggar.

Troco o cd, Orff já me tungou duas vezes. Maldito Orff! Mesmo assim não escapo de Carmina Burana. Vendetta! “In taberna” soa e cheira a Gershwin; Banziflor & Helena é puro jazz americano. No entanto resta-me lucidez (!?!?) para rejeitar terceiros dizendo: “-Merda a ti Holst! Não se insinue no meu delírio!” Paro oportunamente em “Ut dem Anger” e lhes digo “ Boa noite!” Estejam certos: cheguei a Gravatal-SC! Lá fora chove! Ave Santo Agostinho dos Santos!