sábado, 1 de maio de 2010

Sinais vegetais do apocalipse

O Lalau desta estória não tem nem relações nem conhecimento da existência de um seu homônimo corrupto e apenado que trocou o assento de juiz pelo de réu. O nosso Lalau vive numa pequena cidade no sul de Santa Catarina e trabalha numa fabrica de molduras. O que me chamou a atenção foram os símbolos vegetais presentes no sonho profético deste senhor pacato e trabalhador: bananeiras e abacaxizais. Principalmente as bananeiras, presentes no imaginário camponês brasileiro como antecipadoras das bonecas infláveis e no dos pequenos centros urbanos, ao lado dos abacateiros, como avós dos motéis inexistentes. Procedem dessas praticas antropologicamente comprovadas as referencias que eram feitas a valsa Saudades de Matão* como “Saudades do matinho”. Outras ocorrências populares como as que dão conta das interações entre freiras e bananas** contribuíram para fixar uma conotação nitidamente sexual às bananeiras quando excluidos os aspectos puramente agrícolas e artesanais. Naturalmente os abacaxis tiveram melhor sorte com a sua pífia inclusão no humor popular.

Isto posto, vamos ao sonho profético do Lalau. Que eu saiba, não há registro anterior premonições apocalípticas envolvendo bananeiras e abacaxizais. Quero crer que se devidamente divulgado o sonho do Lalau em breve desbancará o calendário maia e Nostradamus fornecendo aos arautos do fim-do-mundo uma linguagem mais simples e objetiva.

Pois o Lalau teve um sonho. No sonho ele via apenas bananeiras e abacaxizais exuberantes. Poderia ser um símbolo de fartura como na interpretação mosaica, mas não. A sorte do Lalau foi ter tido o pai que teve e “quem sai aos seus não degenera” (antigo provérbio popular). O pai do Lalau avisou-o desde pequeno que, conforme a tradição mantida na família por tempos imemoriais, “sonhar com bananeiras e abacaxizais era um sinal do fim-do-mundo”. E o Lalau sonhou com isso algumas vezes nos últimos tempos. E é movido pela certeza que o ampara agora que ele está contando o sonho profético para quem quiser ouvir: o mundo vai acabar!

Para não ser acusado de menosprezar um aviso de tal magnitude por ceticismo irresponsável, disponho-me a fazer neste mesmo blog uma retratação adequada após a profecia ser verificada através de ocorrência material.

* “Saudades de Matão” – valsa composta em 1904 pelo maestro Jorge Galatti da banda ítalo-brasileira de Araraquara. Recebeu letra de Raul Torres em 1938.

** “Duas freirinhas param numa banca de feira e dizem: - o senhor pode nos ver uma penca com duas bananas? O feirante solicito diz: - levem essa com três, eu não vou cobrar das irmãs.Uma pergunta pra outra: - o que a gente faz? A outra responde: - levamos. Uma a gente come.” (piada anos’50)