sábado, 29 de dezembro de 2007

Traduções


Traduzindo:
1. "Nem tudo que reluz é ouro. Nem tudo que balança cai. (provérbio popular)
2. "Rapadura é doce mas é dura."(Marcia Reis de Souza, paraibana)

Sobre a leitura de Umberto Eco: "Quase a mesma coisa", 458 pags., Ed. Record,2007. Mais que necessário. Fundamental!

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

A todos vocês, leitoras e leitores, regulares e acidentais que por aqui passam...

sábado, 22 de dezembro de 2007

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Dez meses hoje...

Ruth amava o mar. Nessa tarde, numa praia sarda, há 20 anos, afastei-me enquanto ela orava. Lembro-me do que senti olhando pelo visor ttl: era como se todas as mulheres que amaram o mar ao longo do tempo estivessem nela e com ela naquele momento. Ela era jovem e antiga numa síntese perfeita. Hoje percebo que foi bom vencer a emoção e fazer a foto.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Quatro de Quatro


1.A lunetta de Isola delle Stinche é clara: três núcleos definem a narrativa.

2.Presos inicialmente em Isola delle Stinche, aviltados, humilhados, andrajosos, torturados, os Cavaleiros do Templo apresentam-se diante da Madonna, na consciência de cada um e de todos, pela sua fé e votos íntegros com seus mantos impolutos e suas cotas de armas. Recebe a Regina Mater os seus filhos e o seu estandarte de batalha e o honra com o seu toque.

3.Um anjo anuncia a um irmão a necessidade de partir para preservar o segredo.

4.Por terra, abatido na sua vergonhosa condição, o estandarte de Firenze. Na face do cavaleiro, já em veste de peregrino, não há temor. Antes, dialoga com o anjo e recebe instruções para a viagem, o que fará custodiando o bem mais precioso – Baphomet* - para que o conhecimento possa permanecer no mundo.

Per omnia seculo...
AVE REGINA MUNDI

* esta é uma raríssima representação da palavra-conceito “Baphomet” feita por aqueles que a criaram. Observe-se o rosto a altura do cavaleiro.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Três de Quatro

Diz-se, com exagerada freqüência, que quando o discípulo esta pronto, o mestre aparece. A amplitude desse enunciado tem servido de amparo a toda a sorte de exploração da vaidade mística contemporânea. Na imensa maioria das vezes a coisa revela-se uma combinação numerológica de conseqüências outras: o célebre “171”. Na origem, a mesma afirmação hoje prostituída significava que reunidas as condições interiores no aspirante o seu próprio Mestre Interior o conduziria ao caminho mais adequado a sua missão (e aprendizado real). Um bom exemplo é o de Bernardo de Fontaine, conhecido como Bernardo de Clairvaux ou S. Bernardo. Sua entrada no monastério de Cister ocorre aos 22 anos. Daí pra frente, é história. Como ele, muitos outros em diferentes idades chegaram ao contato com aquilo que seria a sua linguagem de ação após uma somatória de experiências de vida. Vale lembrar: a vida de qualquer buscador não exclui nem um segundo da sua existência terrena, incluindo os seus erros. Sem eles, a sua humanidade, condição fundamental para a busca, não existiria. Não há santos na Senda. A vida contemplativa é reservada aos que assim a desejam, e por isso mesmo separam-se do mundo em monastérios, taqias, desertos, etc.. A Senda, na sua leitura ocidental, implica em uma práxis (ação) correspondente a cada estágio. Ocidente e Oriente são duas partes complementares, não excludentes, do mesmo planeta. Lembremo-nos do fato, básico e inconteste, de que a viabilização de uma agricultura racional e eficiente, capaz de fazer frente a demanda de abastecimento do mundo da época foi resultado do trabalho de pesquisa e desenvolvimento dos Cistercenses da Pianura Padana, também chamada Delta do Pó, nos séculos XII e XIII. Até então, a agricultura ocidental e oriental era orientada pelo simples plantar e colher (se possível). Quantos Manuais poderiam ser escritos, seriamente, com a pretensão honesta de partilhar a experiência vivida na busca de um sentido mais amplo da chamada realidade? Tantas quantas foram as experiências bem sucedidas do ponto de vista dos que encontraram o que buscavam. E seriam muitos. O problema é que dificilmente um perfil de neófito poderia enquadrar-se em absoluta identidade com qualquer deles. A função maior das Ordens Iniciáticas Tradicionais é a de fornecer método e ferramentas que auxiliam na busca, de modo gradual e seguro. As livrarias estão hoje abarrotadas de livros de misticismo tipo “faça-você-mesmo”. Não são baratos, mas ao menos dispensam a aquisição de furadeira, bancada e outras ferramentas que caracterizam a prática de um hobby. São, quase sempre, produzidos conforme rigoroso plano de marketing para que a vitima, digo, o leitor, tenha a sensação de ter recebido o máximo por “quase nada”. Nisto entra a tarefa dos ciscadores* de plantão, prontos a fornecer dados para a “tendência” editorial do momento. Um bom exemplo é “O Casamento do Espírito” que tem como subtítulo apenas “Vivendo iluminado no mundo de hoje”. É um caso de alquimia reversa: na tentativa de distribuir conceitos válidos ciscados em varias fontes num texto “coerente” (com os seus propósitos, claro!) terminaram por transformar ouro em lixo (não reciclável). Mas vende muito. Como toda a auto-ajuda fascista.

*Ao usar a palavra “ciscadores” devo informar a sua origem conceitual: veio de um grande amigo, R. Rau, que a aplica com eficiência superior ao bisturi do melhor cirurgião.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Dois de Quatro

A palavra usada para designar aquele que caminha na Senda é “buscador”. O que começa com um desejo de acesso a um conhecimento, torna-se, com o tempo, uma parte integrante da vida do buscador. Esta característica de permanência já o separa dos curiosos. Com o tempo, a ferramenta-mestra da Busca, a percepção torna-se mais aguçada e a interação de dados mais veloz. O indivíduo torna-se, naturalmente, um banco de dados que suporta a ação. Todas as formas de transmissão oral de informações recebidas são “impressas” nele. Raramente registradas por escrito. Essa é a função das iniciações. Ao atingir este ponto, as leituras tornam-se seletivas e as experiências parte da construção pessoal. Pode haver emoção em um aprendizado, mas não euforia. Justo. Aprendizado é responsabilidade para e com o recebido e sempre traz aplicações imediatas desse conhecimento. A euforia, passada, deixa a pergunta: o que eu faço com isto? Mas todo o processo ocorre em um contexto tanto situacional quanto motivador. Se me é permitida uma sugestão, o medievalismo em sua visão histórica é outra grande ferramenta. A Idade Média, para nós ocidentais foi o momento de maior amplitude do pensamento porquê ele ocorria no seio da eternidade, a sombra da faia e da Luz Divina. Não devemos confundir pensamento com tecnologia. O Renascimento deveria ter sido a síntese, mas infelizmente, foi abortado pelo Iluminismo burguês. Seria mais fácil a compreensão da relação onda-partícula para um pensador medieval do que para um iluminista. A esta altura, creio que posso falar em dificuldades por inadequação quanto ao modo de acesso ao conhecimento velado em contraposição a boicote de buscadores. O livro máximo de orientação é a Natureza. A sua observação suave, porem atenta, feita a partir do pressuposto que nos integra como parte dela e através disso, unos com a manifestação imanente da divindade, forma o cenário adequado para a visão da História Humana e consequentemente a história pessoal dos seres. Nada, para a história do ser é descartado. Até memórias de infância podem aflorar e auxiliar diante de um “que-fazer”. Buscar é buscar a Unidade. Como na Oração Final: “Um e um...”

domingo, 16 de dezembro de 2007

Um de Quatro



As três postagens anteriores tem um nexo e objetivo comum: o questionamento feito por Mariângela na postagem “T 700” sobre o acesso ao conhecimento iniciático e a sua interação com a cultura na acepção antropológica. Antes de responder, sem nenhuma pretensão de fornecer soluções definitivas, creio ser necessária a colocação dos seguintes pontos:
1.toda representação da realidade, por mais estranha que ela seja, pressupõe uma linguagem para ser transmitida.
2. toda linguagem necessita, para a sua compreensão, de um código que é de uso comum entre o transmissor e o receptor.
3. mesmo a via iniciática não é um sistema linear unidirecional (v.g.: mestre -> discípulo); ao contrário, é não-linear e interativa.
4.o primeiro passo para qualquer transmissão é a existência desse código, seja ele um alfabeto, um conjunto de conceitos, uma somatória de experiências comuns, etc.
5.isto passa pela opção do indivíduo quanto ao desejo de compreensão de determinadas manifestações da realidade que atraíram a sua atenção por parecerem não ser, exatamente, aquilo que parecem.

Sobre as postagens anteriores:
.O tamanho da esfera depende da posição do observador.
.A utilidade do muro depende do construtor. No caso do muro levantado pelos Construtores, uma vez que se encontra a pequena porta para o Jardim Interno, percebe-se que a sua função era a de estimular a busca da passagem.
.Os tempos não mudam, assim como a humanidade. Há valores que são eternos e universais; a sua busca, geração após geração, contribui para uma evolução descontinua dos povos. Basta olhar a História dos últimos 2000 anos.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Será que os tempos mudam?


CAMBALACHE - tango - 1935
Letra e Música: Enrique Santos Discépolo.

Que el mundo fue y será una porquería,ya lo sé; en el quinientos seis y en el dos mil también; que siempre ha habido chorros, maquiavelos y estafaos, contentos y amargaos, valores y dublés, pero que el siglo veinte es un desplieguede maldá insolente ya no hay quién lo niegue; vivimos revolcaos en un merengue y en un mismo lodo todos manoseaos. Hoy resulta que es lo mismo ser derecho que traidor, ignorante, sabio, chorro, generoso, estafador. Todo es igual; nada es mejor; lo mismo un burro que un gran profesor. No hay aplazaos ni escalafón; los inmorales nos han igualao. Si uno vive en la impostura y otro roba en su ambición, da lo mismo que sea cura, colchonero, rey de bastos, caradura o polizón. Qué falta de respeto,qué atropello a la razón; cualquiera es un señor, cualquiera es un ladrón. Mezclaos con Stravisky, van Don Bosco y la Mignon, don Chicho y Napoleón, Carnera y San Martín. Igual que en la vidriera irrespetuosa de los cambalaches se ha mezclao la vida, y herida por un sable sin remaches ves llorar la Biblia contra un calefón. Siglo veinte, cambalache problemático y febril; el que no llora, no mama, y el que no afana es un gil. Dale no más, dale que va, que allá en el horno nos vamo a encontrar. No pienses más, echate a un lao, que a nadie importa si naciste honrao. Que es lo mismo el que labura noche y día como un buey que el que vive de los otros, que el que mata o el que cura o está fuera de la ley.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Para que se constrói um muro? Para proteger; para ocultar; para separar; para que ele contenha as pequenas brechas que valorizam o que se vê através delas. As quatro respostas são válidas e podem, enquanto função, ocorrer juntas ou isoladamente. Tudo depende de quem constrói o muro.

Os muros, assim como as muralhas, têm um tempo de vida útil. Exemplos? A Grande Muralha da China, o Muro de Berlim. Deste ultimo acompanhei toda a história. E percebi que a maior utilidade deles é criar o desejo de união entre os que estão dos dois lados. As vezes essa é a única intenção dos Construtores...

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

T 700

Fazia muito frio naquela noite em Firenze. Os jornais da manhã deram como um dos piores invernos da sua história. O Arno tinha a superfície congelada. Os últimos 15 dias tinham sido dedicados a encontrar os registros prisionais dos Cavaleiros do Templo naquele distante início do séc. XIV numa Itália que faz o possível para esquecê-los. As ruas vazias e nenhum carro. A distancia e o frio tornavam o retorno a casa na XX Settembre impensável. Deixar a festa a uma da manhã e encontrar um táxi, uma tarefa de doido. Diante do inevitável, caminhar na direção de casa era melhor do que congelar. Cortando caminho vejo uma porta de vidro iluminada: um pequeno hotel. Entro e pergunto ao porteiro da noite se é possível chamar um táxi. Ele liga para um ponto e pede um. Antes que ele chegue, pergunta-me o que faço em Firenze. Pesquisa histórica, respondo. Ele ri e diz: “nos lugares errados! O que o senhor (it.:lei) procura não está em Isole delle Stinche, mas nos subterrâneos de Santa Maria Novella. Procure a Sra. ... nos Bens Culturais e ela o auxiliará a encontrar as provas. Os Templários foram levados para a prisão de Isola delle Stinche e de lá tranferidos silenciosamente para os subterrâneos da igreja em construção onde tiveram o seu fim.” Sem perguntas, agradeci da forma adequada e entrei no táxi que chegava. Fiz o que ele disse. E encontrei mais do que esperava. Não consegui entrar nos subterrâneos de Santa Maria Novella. “Oficialmente” eles não existem. Procurando no piso da igreja encontrei os respiradouros, pequenos, coisa de menos de um palmo, e mesmo assim com barras metálicas. A igreja estava em construção em 1307 e salvo um pequeno período no séc.XIX, sempre esteve em mãos dos dominicanos. Um templário anônimo, protegido pelos laços do sigilo, deixou em forma de lunetta o registro da passagem dos irmãos por Isola delle Stinche antes de serem levados para a igreja. Mesmo sob tortura e humilações, a obra reafirma a devoção Mariana tão cara a Ordem. A foto acima foi feita no local para onde a lunetta foi transportada para “restauro”. Nunca mais ouvi falar dela. Que esta postagem seja um humilde testemunho do seu martírio e fé neste ano que está, exatamente, a distancia de sete séculos da “suspensão” da Ordem do Templo. Sob a égide do Salmo que diz: Não a nós, Senhor, não a nós, mas para que ao Teu Nome seja dada toda a Glória.”

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Descida ao inferno


Desenhos de Botticelli para a Divina Comédia (Inferno)
Quem já não teve a sensação, nítida e forte, de compreender, alem da letra, os versos de Dante: Nel mezzo del cammin di nostra vita / mi ritrovai per una selva oscura / ché la diritta via era smarrita.( Inferno, I, 1-3. )?

Descida ao Inferno. Começando pela “selva oscura” e mergulhando rapidamente no mais profundo abismo. Este ano que termina (felizmente) provocou a minha mais terrível descida ao Inferno. A idade serve para perceber, comparativamente, que passamos por várias delas em graus diferentes. E 2007 foi a minha pior. Sem nenhum otimismo, continuo a crer que quando voltamos a dita normalidade, algum aprendizado fica. Seria isso a evolução? Será que há, de fato, evolução? Ou apenas sobrevivência? Não sei se este tipo de questionamento cabe nesta altura. Com o pitagorismo que me resta procurarei estruturar uma vida possível. Redividirei o Inferno em três níveis, de acordo com a minha experiência dos últimos 4 anos: a “Selva Oscura”, o Deserto Inclinado e o Abismo. Ao primeiro posso também chamar constatação, ao segundo esperança e ao terceiro ... . Talvez o mergulho final no Abismo tenha a ver com a hipótese dos buracos negros que conduziriam a outra dimensão, ou a outro estado da energia. Talvez a infinitude do Abismo rechace o humano a partir de certo ponto da queda e o atire de volta a “Selva Oscura” (cfr. Milton sua função é receber anjos caídos). Não sei. Por certeza, só a segurança de que qualquer descida ao inferno é pessoal e intransferível, sem Virgilio algum ao lado. Pode ser que o paraíso seja partilhável. O inferno não é! Porquê é humano. Botticelli compreendeu isso melhor que Doré. As duas ilustrações acima, se retiradas as figuras de Dante e Virgilio são de uma lucidez terrível. Restará um contexto capaz de conter qualquer ser humano. Ao contrário de Doré, sua dimensão é a eternidade, não a finitude (gráfica). Um traço de aspecto pedagógico claro: no seio da eternidade até as antíteses coexistem, criando um limite para a fase do Abismo. Só seria otimista no inferno um religioso, coisa que não sou. Já é bastante empenhativo o aprendizado tardio do cinismo. Mas fica a hipótese a ser provada do Eclesiastes: “ut crescat in novíssimo vita tua”. Iniciando a contagem regressiva para 2008...