quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

T 700

Fazia muito frio naquela noite em Firenze. Os jornais da manhã deram como um dos piores invernos da sua história. O Arno tinha a superfície congelada. Os últimos 15 dias tinham sido dedicados a encontrar os registros prisionais dos Cavaleiros do Templo naquele distante início do séc. XIV numa Itália que faz o possível para esquecê-los. As ruas vazias e nenhum carro. A distancia e o frio tornavam o retorno a casa na XX Settembre impensável. Deixar a festa a uma da manhã e encontrar um táxi, uma tarefa de doido. Diante do inevitável, caminhar na direção de casa era melhor do que congelar. Cortando caminho vejo uma porta de vidro iluminada: um pequeno hotel. Entro e pergunto ao porteiro da noite se é possível chamar um táxi. Ele liga para um ponto e pede um. Antes que ele chegue, pergunta-me o que faço em Firenze. Pesquisa histórica, respondo. Ele ri e diz: “nos lugares errados! O que o senhor (it.:lei) procura não está em Isole delle Stinche, mas nos subterrâneos de Santa Maria Novella. Procure a Sra. ... nos Bens Culturais e ela o auxiliará a encontrar as provas. Os Templários foram levados para a prisão de Isola delle Stinche e de lá tranferidos silenciosamente para os subterrâneos da igreja em construção onde tiveram o seu fim.” Sem perguntas, agradeci da forma adequada e entrei no táxi que chegava. Fiz o que ele disse. E encontrei mais do que esperava. Não consegui entrar nos subterrâneos de Santa Maria Novella. “Oficialmente” eles não existem. Procurando no piso da igreja encontrei os respiradouros, pequenos, coisa de menos de um palmo, e mesmo assim com barras metálicas. A igreja estava em construção em 1307 e salvo um pequeno período no séc.XIX, sempre esteve em mãos dos dominicanos. Um templário anônimo, protegido pelos laços do sigilo, deixou em forma de lunetta o registro da passagem dos irmãos por Isola delle Stinche antes de serem levados para a igreja. Mesmo sob tortura e humilações, a obra reafirma a devoção Mariana tão cara a Ordem. A foto acima foi feita no local para onde a lunetta foi transportada para “restauro”. Nunca mais ouvi falar dela. Que esta postagem seja um humilde testemunho do seu martírio e fé neste ano que está, exatamente, a distancia de sete séculos da “suspensão” da Ordem do Templo. Sob a égide do Salmo que diz: Não a nós, Senhor, não a nós, mas para que ao Teu Nome seja dada toda a Glória.”