quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

D. Joana Galvão, m. em 7 de agosto de 1680

D. Joana Galvão,
Onde estiver.

Minha Senhora,

valho-me, por endereçamento, da forma usada pelos vossos filhos espirituais na revolução Constitucionalista de 1932. Peço-lhe não estranhar a linguagem e a forma desta carta. É coisa destes tempos, tão diferentes daqueles em que vivestes, vós e vosso companheiro, Capitão Manoel Galvão. Neste ano em que estamos, MMVIII, completar-se-ão, no dia 7 de agosto, 328 anos do sacrifício de ambos, ao lado de outros bravos paulistas, na defesa da nascente Colônia Militar de Sacramento, defronte a cidade de Buenos Aires, com o rio da Prata pelo meio. Poucos, muito poucos contra os quase seis mil inimigos que vos assaltaram. Os americanos, povo que tomou esse nome cem anos após as vossas mortes, fazem um grande alarde sobre uma batalha semelhante a que enfrentastes, contra um numero bem menor de inimigos e chamam-na “o Álamo” . Sobre vós pesa um quase esquecimento. A história, quando manejada por governos totalitários de qualquer matiz tende a ocultar o que entende como derrotas.

Mas por ser verdadeiro o dito “Fortuna juvat audaces” as memórias de honra e bravura não podem ser extirpadas. E afortunada é uma memória que mesmo sem nomes permanece no espírito de sua gente. Ao escrever-vos esta carta aberta é minha intenção dividir com os do meu tempo a vossa história de mulher e guerreira. Fica pois a narrativa de D. Manoel Lobo* em carta de 21 de setembro de 1680, escrita 14 dias após os fatos e enviada ao Príncipe Regente D.Pedro, posteriormente Pedro II de Portugal:

“...E ergue-se, num fundo de apoteose, um vulto varonil de mulher, D. Joana Galvão, que vendo cair morto o esposo, Capitão Manoel Galvão, toma-lhe da mão ainda quente a espada gloriosa e se atira ao fragor da luta, e não se rende embora queiram lhe poupar a vida, tombando, trespassada de feridas sobre o corpo inerte do esposo, na mais heróica e admirável das atitudes da raça.”

Sede pois, como se disse da Outra, bendita entre as mulheres!

* D. Manoel Lobo, comandante da praça e testemunha ocular, guardava leito por doença tendo transferido o comando dela ao Capitão Manoel Galvão.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Centésima postagem


Centésima postagem! Sempre parafraseando Manolito, o personagem do Quino: “Hay de todo em este blog de Dios!”

Pois hoje vou postar uma história que contei sempre que o assunto era a dedicação dos animais aos humanos. Desta vez tenho a foto da heroína, Lili. Benditos guardados anárquicos. Acho que em breve postarei algo do tipo “Limpeza em Arquivos Anárquicos e fontes documentais”.

Quando moramos em Caldas Novas, GO, há 30 anos atrás, trabalhava no único pequeno hospital da cidade um bioquímico, o Paulo. A família era constituída por ele, a esposa e três filhos, o da foto o mais novo, e a Lili. Todos se tornaram amigos nossos e o menor tinha uma grande ligação com a Ruth. A Lili era uma doublè de companheira de folias e guardiã das crianças. Gentil, inteligente e afetiva com os adultos, sempre exprimia na sua relação com eles uma grande maturidade. No meio de uma tarde de verão, enquanto o garotinho da foto brincava no chão frio da cozinha e a babá assistia televisão na sala (os pais trabalhavam e os irmãos estavam na escola) entrou pela porta que dava para fora uma grande aranha do cerrado, dessas perigosas e letais, que se deslocava na direção dele. Lili, que estava sempre ao seu lado, atacou a aranha latindo alto e furiosamente. A babá atraída pelo barulho olhou a cena e correu para “buscar socorro” sem pegar a criança. Lili lutou com a aranha mordendo-a e sendo picada por ela. Quando a ajuda chegou, a aranha estava morta e Lili agonizava ao seu lado. Levada para o hospital, chegou a receber soro e medicação (na cidade só havia um “vacarinário”, veterinário que descornava bois). O Paulo e o Geraldo, este médico, fizeram o que sabiam e podiam. O veneno já tinha tomado o seu corpo e ela morreu durante uma parada respiratória. Conforme o Geraldo, que antes de fazer medicina criou-se em fazenda goiana, se a criança tivesse sido picada, o óbito seria inevitável. Por ela e sua memória, invoco a Tradição: “quem salva um ser humano, salva toda a humanidade!” Lili o fez!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

180 anos!


Foi exatamente em 1828. Casparus van Houten (1770-1858), um holandês, usou e patenteou uma prensa hidráulica que separava a manteiga das sementes de cacau. Vale um ano de comemoração. Graças a ele temos hoje o chocolate em barras e em pó. Deus o tenha entre os seus!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Estrada Parque

Quem passa pela rodovia Itú-Jundiaí vê uma indicação Cabreuva/Estrada Parque. Já passei por ali muitas vezes chegando a observar o fluxo de romeiros que tomavam a dita estrada em direção a Bom Jesus de Pirapora. Hoje, depois de mais uma manhã dedicada a Operação Casa Limpa (há bom tempo em andamento, removendo o acúmulo de inutilidades, algumas semicentenárias), resolvi sair e ir conhecê-la. Mesmo com chuvisco constante, as suas muitas curvas e alguns idiotas que não perceberam o que é uma estrada-parque, valeu a pena. Pela estrada. Uma grande placa, mais o menos na metade do caminho indica a tal Fazenda do Chocolate muito badalada nas publicações regionais e nativas. Puro marketing. Artesanato industrial (sounds crazy, no?), vinhos mineiros(?), cachaças mineiras (algumas com turvação). Quanto ao chocolate, é igual a qualquer chocolate feito em casa por quem não conhece chocolate. Atende um grande volume de público que jamais experimentou um bom chocolate sério e deslumbra-se com meia dúzia de pavões andando entre os passantes. Não percam tempo aí. Cabreúva também, mais parada do que nunca, teve a sua simpática pracinha provinciana destruída pela atual administração municipal e está em obras. Como passeio, só valeu mesmo pela estrada.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Deus & o sentido da vida

Envelhecer tem as suas vantagens. Uma delas é tornar-se coetâneo do diabo e levá-lo tão a sério quanto qualquer outro companheiro de farras de juventude. O brilho da transgressão embaçado pelo hábito já não causa excitação. A Liberdade é um valor sagrado tão firmemente estabelecido que não envolve a necessidade de contestações. A sexualidade tem o objetivo do conhecimento da essência feminina e a mulher passa a ser preferida em lugar da fêmea. Tornamo-nos menos gregários, mais silenciosos, precisamos de um pouco de solidão para poder pensar e beneficiar o e do vivido. E o vivido é o passado completo, até aquele momento. O futuro torna-se uma sub-função de práxis derivada da função análise/síntese das possibilidades, apoiada no banco de dados da memória. É projeto de curto prazo. O que conta é que essa práxis seja totalizadora. O objetivo não está mais em nós mesmos, mas no que podemos produzir para os outros. E quanto mais amplo for o sentido de “outros”, maior a possibilidade de realização. Não temos mais ilusões inúteis. Apenas as permitidas como o tempero da vida que a cozinha, a longo praticada com carinho ensina. Cozinhamos o nosso tempo fazendo dele alimento espiritual. Qualquer religião, por incompatível com a Liberdade, já estará há muito descartada. As congregações são o apoio dos que nunca compreenderam o verdadeiro sentido fraterno da amizade ou precisam sentir-se populares. A outra vantagem do envelhecimento é – ou deveria ser - a erradicação definitiva do egoísmo. Esta é uma leitura que, para ser eficaz, deve ser feita através da confrontação do individuo consigo mesmo, sem levar em conta as expectativas de terceiros, que se forem boas podem induzi-lo a vaidade e ao orgulho, se forem ruins, pode representar a manifestação do egoísmo delas (não somos o que elas querem que sejamos). Insisto: ao envelhecer, já que tivemos tempo para o aprendizado, o objetivo não está mais em nós mesmos. Os que tiveram, nos seus dias, a sorte de dedicar-se e servir livre e conscientemente ao próximo, descobrem que o saldo da fadiga é aprendizado intenso. Daí que a perspectiva funcional deve ser orientada para o mais pleno emprego do conhecimento adquirido. E sempre que houver ressonância, partilhado. O Grande Prêmio, se é que há algum, é a paz interior. Que não significa inação nem alienação. Antes, ação consciente. Outra, ainda maior, é que não precisamos mais pensar na morte. Ela está mais próxima e deveríamos já ter claro que é apenas a cessação da vida natural. Viver cada dia é algo que deveria ser ensinado na infância de todos os seres humanos. Ao envelhecer, é “antes tarde do que nunca”. É parte da construção da paz interior. Dentre as mudanças profundas que a sofremos, a mais evidente é a noção de tempo. O distanciamento cronológico de acontecimentos históricos que permearam a nossa vida dá-nos pela primeira vez a noção de “tempo” incluindo aspectos como extensão, duração e sua relação com o espaço, de modo pessoal porque sob a ótica do observador. Essa abstração tende, naqueles como nós que optaram ainda na juventude por um teísmo puro, a favorecer reflexões sobre a natureza da divindade e a figuração divina. Nada de longas barbas brancas, vozes tonitroantes, fogos de artifício. Também exclui-se a figura consoladora e paternal. O que fica é algo sutil e luminoso. É Presença! O Panteísmo é a única doutrina compatível com a mecânica quântica e a dignidade humana. Conceitos como creacionismo e evolucionismo são reduzidos a sua justa medida. A fé mostra-se como é de fato: burra e asfixiante. Conceitos como Graça ganham sentido e são traduzíveis por harmonia inesperada. E alegremente percebemos que essa manifestação de uma força maior sempre ocorre como fruto de um desejo intenso... para aqueles a quem desejamos. A salvação, que nunca compramos (171 espiritual) nem faz parte de qualquer cogitação. Porque vivemos e em nós viveu e vive uma parte dessa Divindade. Honrá-la é ser livre e ético. A moral é relativa e sempre serve aos que se auto-investem de algum tipo de poder, sempre espúrio. O amor tem a dimensão de algo ilimitado. Mas isento de paixão. Manifesta-se na busca do servir objetivamente (isto é, conforme os próprios limites reais) e permite vínculos fraternos claros porque estabelecidos sob a luz do espírito. Separa-se com mais facilidade o mundo das contas a pagar com seus códigos de barras daquilo que deveríamos estar sendo nesse momento. E um sentido imenso de gratidão cósmica cresce no nosso interior por ainda participarmos da vida. E de igual modo, em gratidão e paz, estamos prontos a entregá-la livremente. Não. Não acho que exista um sentido único para a Vida alem da infinita multiplicidade de aspectos dela mesma. Se há premio, compensação ou pagamento pela vida de um ser qualquer, humano, animal ou vegetal esse já lhe foi conferido através do entrar no mundo, independentemente da avaliação. E nela, essa Presença que nos une, pela energia da consciência, a mais distante galáxia. Acho, afinal, que Deus existe – em nós e nos infinitos universos e a sua Presença, na beleza da eternidade, é a maior manifestação do Seu Amor.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Deus, um delirio

“Deus, um delírio”, Richard Dawkins, 520 pags.,Companhia das Letras,2007.

Um livro quase delicioso. Talvez o seu mérito seja o de fazer alguns leitores abrirem os olhos para os grilhões religiosos que os prendem. Quanto a negação do teísmo, entendido como a consciência da manifestação divina, isenta de qualquer vinculo religioso, sua contribuição esbarra na necessidade da “prova científica” da existência de Deus. Ao longo da história humana, em qualquer estágio do processo civilizatório, pequenos grupos de humanos sempre souberam instintivamente que havia uma outra realidade alem daquela que podia e devia ser mensurada, conceitualizada e operacionalizada para fins práticos (esta foi a origem da “ciência”) sem a interveniência da fé. Destes, a maioria acabou por reunir-se em sociedades iniciáticas que, por sua vez oscilam, a medida que as gerações passam, entre agirem política e comercialmente ou segundo o projeto original. O saldo da sua ação é quase sempre positivo.
Já as religiões... . Um claro exemplo é o das chamadas igrejas cristãs e é bom lembrar que a católica tem esse nome para afirmar as suas pretensões a uma “universalidade” hegemônica. A mensagem de Jesus de Nazaré que na sua forma visível era a da Fraternidade Universal e devolvia a qualquer um, através do batismo pelo Espírito a sua integração ao cósmico foi plasmada numa materialidade expansionista sob formas institucionais que as tornam, em maior ou menor grau, irmãs da Shell, da Exxon, da General Motors, da Sony, etc. Quem critica os métodos da CIA e o extinto (?) KGB deve lembrar que trocar governantes hostis por simpatizantes foi uma prática normal do Vaticano desde as suas origens.
Mas voltemos ao livro do Dr. Dawkins: o conteúdo de informação sobre o lado oculto (ou propositalmente esquecido) das religiões torna a sua leitura extremamente agradável e útil. Seu alerta sobre o fundamentalismo religioso, incluindo o americano, apoiado no fato de ser a maior potencia militar do planeta hoje, é sólido e necessário. Viver no clima de tolerância religiosa inerente a condição brasileira de hoje pode tornar algumas preocupações do autor um tanto risíveis. Mas num tempo de Internet, não dá pra dizer que o futuro não nos reserva uma quota pesada de obscurantismo. Caetano quando era lúcido escreveu (e cantou) “é preciso estar atento e forte”. Espantem-se e divirtam-se com a estupidez dogmática documentada com extremo bom gosto nesse livro. Leiam “Deus, um delírio”!

Quanto a mim, sou teísta, mas não religioso. Minha experiência religiosa foi suficientemente diversificada para descobrir que não precisava de nenhum lobista espiritual. Mas isso fica para outra postagem. Espero que gostem da ilustração/piada. Na próxima encadernação quero vir com uma centelha da alma de Groucho Marx.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Fumantes:

"A ciência moderna costuma interpretar mal as causas. Quando estudante eu costumava dizer: “É verdade que fumar causa câncer? Ou é verdade que [a predisposição para o] câncer causa o hábito de fumar?” Enquanto nós refletimos sobre as causas de problemas reais, é cada vez mais importante que perguntas como estas sejam feitas."
Brian J. Ford in "Brian Wave Column, Chain Reaction, out.1996

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Começou mais um Banho de Sangue Japonês!

Estranho? Não! É para lembrar que o Japão iniciou a temporada de caça as baleias. A imagem acima é da "ALV - Animal Liberation Victoria" da Austrália.
Todos os anos, sem que exista nenhuma justificativa de carater alimentar, a não ser um exercício de prepotencia, mais de 10% da população planetária de baleias é massacrada para manter a "tradição" niponica do seu consumo. Mais de 1.000 baleias são caçadas e mortas sob a alegação de "pesquisa científica" indo terminar nos mercados de peixes do Japão.
A brilhante tecnologia do dito "país do sol nascente" nada faz para eliminar esse ranço feudal.