terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Deus, um delirio

“Deus, um delírio”, Richard Dawkins, 520 pags.,Companhia das Letras,2007.

Um livro quase delicioso. Talvez o seu mérito seja o de fazer alguns leitores abrirem os olhos para os grilhões religiosos que os prendem. Quanto a negação do teísmo, entendido como a consciência da manifestação divina, isenta de qualquer vinculo religioso, sua contribuição esbarra na necessidade da “prova científica” da existência de Deus. Ao longo da história humana, em qualquer estágio do processo civilizatório, pequenos grupos de humanos sempre souberam instintivamente que havia uma outra realidade alem daquela que podia e devia ser mensurada, conceitualizada e operacionalizada para fins práticos (esta foi a origem da “ciência”) sem a interveniência da fé. Destes, a maioria acabou por reunir-se em sociedades iniciáticas que, por sua vez oscilam, a medida que as gerações passam, entre agirem política e comercialmente ou segundo o projeto original. O saldo da sua ação é quase sempre positivo.
Já as religiões... . Um claro exemplo é o das chamadas igrejas cristãs e é bom lembrar que a católica tem esse nome para afirmar as suas pretensões a uma “universalidade” hegemônica. A mensagem de Jesus de Nazaré que na sua forma visível era a da Fraternidade Universal e devolvia a qualquer um, através do batismo pelo Espírito a sua integração ao cósmico foi plasmada numa materialidade expansionista sob formas institucionais que as tornam, em maior ou menor grau, irmãs da Shell, da Exxon, da General Motors, da Sony, etc. Quem critica os métodos da CIA e o extinto (?) KGB deve lembrar que trocar governantes hostis por simpatizantes foi uma prática normal do Vaticano desde as suas origens.
Mas voltemos ao livro do Dr. Dawkins: o conteúdo de informação sobre o lado oculto (ou propositalmente esquecido) das religiões torna a sua leitura extremamente agradável e útil. Seu alerta sobre o fundamentalismo religioso, incluindo o americano, apoiado no fato de ser a maior potencia militar do planeta hoje, é sólido e necessário. Viver no clima de tolerância religiosa inerente a condição brasileira de hoje pode tornar algumas preocupações do autor um tanto risíveis. Mas num tempo de Internet, não dá pra dizer que o futuro não nos reserva uma quota pesada de obscurantismo. Caetano quando era lúcido escreveu (e cantou) “é preciso estar atento e forte”. Espantem-se e divirtam-se com a estupidez dogmática documentada com extremo bom gosto nesse livro. Leiam “Deus, um delírio”!

Quanto a mim, sou teísta, mas não religioso. Minha experiência religiosa foi suficientemente diversificada para descobrir que não precisava de nenhum lobista espiritual. Mas isso fica para outra postagem. Espero que gostem da ilustração/piada. Na próxima encadernação quero vir com uma centelha da alma de Groucho Marx.