sexta-feira, 28 de setembro de 2007

On the road 3






O módulo desta viagem que respeita a Paulo Lopes,SC já pode ser fechado. Balanço feito da experiência: preciso reaprender a aprender. Desde a chegada e hospedagem no ventiunico hotel – no posto de gasolina “do primeiro trevo” (leia-se BR 101, km 253) – a ruptura de paradigmas pessoais entra em ação. Já estive em todos os tipos de hotéis, de cinco estrelas ao buraco negro, em um bom numero de países, mas nunca em um hotel de caminhoneiros. A surpresa vem da somatória de higiene e tranqüilidade com simplicidade e cortesia. Nenhuma maleta da samsonite nem palmtop a vista. Outro planeta.

Desde Waraya eu não tinha contato com tantas pessoas vivendo real e exclusivamente da terra; e todas empenhadas em manter uma abordagem agriecologica mesmo nas raras exceções onde o manejo das culturas não é orgânico. Ali, qualquer interface é orientada pela noção de pertinência. Tudo isso marcado por uma intensa vitalidade. Perfume do arroz em brotamento, nuances de tonalidade em óleos essenciais correspondendo a plantas sadias e plenas, batatas orgânicas germinando no inverno e superando expectativas normais de produção afloram na conversa dessa gente, que diz e explica o como e o por quê sem recorrer a nenhuma forma de misticismo, só ao trabalho.

Uma prova indiscutível dessa leitura atenta e profunda do ambiente é o trabalho de coleta de descartes da sua própria mata nativa feito pelo agricultor Silvio Fernandes. De cascas e galhos apanhados no chão nascem figuras representativas de seres e momentos da natureza circundante e ao falar disso, Silvio coloca-se não como artista, mas como um tradutor da linguagem da natureza.

Preciso, de fato, reaprender a aprender. Talvez já esteja começando. Estou olhando para o rio antes de atravessar a ponte. Um agradecimento necessário - a um novo amigo que pelo dialogo se mostra um velho irmão - Glaico Sell. Os exemplos de práxis do Glaico e sua esposa Rosa mostram que ainda vale a pena acreditar na vida.