quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Quão dissemelhante?

Cidadão brasileiro de 84 anos sofre queda na calçada a cinqüenta metros da residência. O estado de conservação das calçadas na cidade de Caldas Novas, Goiás convida a isso. Natural numa cidade onde o esporte predileto dos políticos nativos é a caça judicial ao prefeito em exercício. Eu disse caça mesmo. Já caçaram judicialmente 3, quase 1 por mês. Conduzido ao Hospital N.S.Aparecida passa por uma avaliação clínica e é enviado para casa onde fica sob medicação, para lesões musculares. Nova queda provocada por falha da perna afetada. O ortopedista que acompanha o caso mora no mesmo pequeno condomínio de 6 casas. A segunda queda é tratada sem que seja feita nenhuma radiografia e durante 18 dias provoca dores que obrigam o paciente a permanecer sentado em uma cadeira de rodas 24 horas por dia. Isso inclui fisioterapia feita por profissional habilitado do mesmo hospital que também nem ao menos suspeita de uma possível fratura. A situação obriga a procurar uma funcionária que cubra as necessidades de trabalho doméstico e tenha conhecimentos de enfermagem. Apenas admitida, essa pessoa apresentada por um casal vizinho e seguramente enviada por Deus pressiona o famoso (localmente) ortopedista para que seja feita uma verificação radiológica da lesão. Com a volta do paciente ao mesmo Hospital N.S.Aparecida o profissional o entrega a um colega mais jovem e a fratura de fêmur é constatada.

Iniciam-se as discussões sobre a necessidade de uma cirurgia sob a forma de junta médica. Introduz-se na história um ortopedista de Goiânia que informa os familiares que ele é um especialista e nenhum dos seus pacientes jamais precisou de UTI (que o hospital não tem, como não tem campainhas de emergência nos quartos e apartamentos) e também que ele fará a cirurgia lá mesmo. Informa ainda que está em Caldas Novas porque é feriado municipal em Goiânia (Lavoisier explica esta parte). Até então, como ele próprio declarou, ainda não havia visto as radiografias. Como havia controvérsia: o cardiologista e o anestesista julgavam ser um grande risco e os outros achavam que não, pede-se a anuência do paciente que, é claro, prefere não ter que ser removido para outra cidade. O doutor de Goiânia, questionado racionalmente por sente-se picado no seu orgulho (ou vaidade?) profissional (la garantia soy yo!) e decide não mais realizar a cirurgia por excesso de intromissão familiar – genro viúvo é família??? Mandam o paciente para casa e entre a alta e o pagamento da permanência, as faturas têm que serem refeitas três vezes por não suportarem conferencia e acabam decrescendo em cerca de 20% no total.

O encaminhamento é feito sob a forma de “declaração” e as chapas radiológicas não tem laudo. Amanhã, pela manhã,a vitima, digo paciente, partirá para Uberlândia onde, espera-se, será finalmente operado. Mais notícias desde Uberlândia em breve.

Memento: Uderzo e Goscinny já disseram através de um de seus personagens em”Asterix”: ...uma junta médica mata mais do que uma legião romana armada até os dentes!”