segunda-feira, 30 de junho de 2008

'58

Não entendo o futebol. Mas lembro, e bem, da Copa de ’58. O Livrinho de tabelas da Gillette, a expectativa dos adultos e de uns poucos coetâneos, o verde-amarelismo renascendo depois do desastre uruguaio, o clima de “agora-vai” sem saber até onde. Eu queria um “radioportátil” (uma entidade em 1958, não um objeto) e em nome da Copa, consegui! Moleque privilegiado, carregava-o para todo lado. Mas ouvir jogo era uma experiência angustiante. Sempre achei que a narrativa esportiva era mais rápida do que a minha capacidade de compreensão dela. Admirava meu pai que a entendia. Mesmo as imagens de Primo Carbonari e Jean Manzon eram belas, porem incompreensíveis. Não conhecia as regras e a terminologia. Ainda assim, juro que tentei. Cheguei a pensar ser surdo, como o tio João. Já sabia o que era hereditariedade e consultei meu pai. “Não. Seu tio é casado com a minha irmã.” Aprendi o parentesco por afinidade, mas nada de futebol. E meu herói e ícone futurista – ainda não pensava em tecnologia – não ajudava muito. O querido radinho Spica me dava 70% estática e 30% narração. O radio era japonês. Perguntava-me por que, se Marconi tinha acendido as luzes do Corcovado com o TSF (Telégrafo-Sem-Fio), não me deram um “radioportátil” italiano. Questionei. A Itália não fabricava. O jeito era perguntar os resultados e anotar conscienciosamente no livrinho-tabela da Gillette. Pra que não sei. O Spica, fora da Copa, deu-me grandes alegrias e deixou não pouca saudade. Muitos anos depois fui vizinho do Dr. Paulo Machado de Carvalho na alameda Barros. Sempre que o via saindo de casa eu o cumprimentava e recebia de volta um sorriso de Avô Universal. Pensei que ele sorrisse por ouvir o meu pensamento: aí vai o Marechal da Vitória.