quinta-feira, 18 de março de 2010

Guimis

preparação conforme a receita da familia Wittlerich (Grão Para-SC)

É difícil estar em Santa Catarina sem tropeçar no “Guimis”. No imaginário popular nativo, há mais de duas gerações de distancia da imigração alemã, a palavra ganhou não apenas grafia própria (gemüse, do alemão:hortaliças,legumes> guimis) mas uma configuração básica herdada dos dias difíceis dos pioneiros. E quando a questão é a imigração européia lato senso para SC, a palavra pioneiros é plenamente justificada. A aspereza do relevo e o abandono a que foram votados os imigrantes após a sua chegada, a ausência do poder publico, perpetuada na péssima qualidade das estradas locais que a imensa força de produção agrícola e agroindustrial familiar deste estado é obrigada a suportar até hoje, faz com que se respeite essa gente da terra pela sua teimosia heróica.
Dizem os mais velhos que o Guimis é, fundamentalmente, a couve cozida em água a qual se adicionam depois as batatas picadas e temperos verdes com pouco sal e após um prolongamento da cocção amassa-se o todo misturando os dois ingredientes e serve-se. Alimento básico de um passado difícil. Com a melhoria das condições de vida o Guimis passou a receber a cebola, o alho, os cortes de carne suína como a costela, o pernil, o lombo e o bacon (neste caso a salga do prato é feita próxima do fim), inicialmente nos dias de festa.
Sobre a receita, a única unanimidade é a presença da batata e da couve. Um dado curioso: para nós de fora, a abundancia de couve e temperos verdes, mais do que das carnes, no Guimis que nos é servido num restaurante pode ser um indicativo do caráter dos donos e do respeito que eles tem pela sua tradição e seus clientes.
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Nas fotos acima:
1. No principio era a couve que foi cozida em água
2. Depois vieram os temperos (cebolinha verde, cebola, salsinha e alho) e as batatas em pedaços ...
3. ... e as carnes (previamente assadas ou defumadas) ...
4. ...e a cocção prosseguiu (quanto mais longa, melhor) ...
5. ... sendo totalmente amassadas (as batatas) e o todo bem misturado, pronto para servir.
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Uma ultima observação: o Guimis também não é unanimidade quanto a forma de consumo. Pode ser comido puro ou acompanhado de arroz, carnes assadas ou cozidas, etc. Perguntar com que ele “deve” ser acompanhado pode gerar uma considerável lista de proposições e provocar entre os informantes uma hostilidade que vc só encontra entre as hostes dos tartufi nere e bianchi.

P.S.: transcrevo aqui parte de um comentário da Agreco recebido neste post porque é pertinente e por descuido (senil?) eu não coloquei a informação da minha fonte no texto inicial:
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"...Todos os domingos eram guardados para o culto nas igrejas. Como era um dia reservado para a fé, o gemüse era preparado logo de madrugada e deixado na cama embaixo de um cobertor de pena. Quando a família chegava da igreja, era só amassar os ingredientes e servir o almoço."
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este hábito permanecia na familia Wittlerich até a morte de Da. Emilia Wittlerich há cerca de 20 anos.