terça-feira, 17 de maio de 2011

releitura


“Ahora que poseo el secreto, podría enunciarlo de cien modos distintos y aun contradictórios.”

J. L. Borges in El Etnógrafo (Elogio de la Sombra, 1969)

I
Há indivíduos (poucos) que tornam-se, sempre involuntariamente, depositários de segredos que, pertencendo a uma herança ancestral da humanidade, exige deles a postura de guardiões operativos. A fala d’O Etnógrafo cabe na boca de todos eles.

II

O que não sabem os que suspeitam da possessão do segredo por parte de terceiros é exatamente o seu valor. E novamente Borges, com uma compreensão que só provem da mente que alcançou a atemporalidade, enuncia no mesmo texto: “El secreto, por lo demás, no vale lo que valen los caminos que me condujeron a él. Esos caminos hay que andarlos.”

III

Só uma vez estive a menos de 3 metros de Borges. Apontei e disparei, primeiro a Polaroid. E em seguida o motor drive da Nikon começou a matraquear em rajadas curtas até cobrir três rolos de película (1 p&b e 2 kodachromes) ao longo da Aula Magna na Universidade de Milão com imagens dele e de Maria Kodama. O tempo encarregou-se de perde-las. Todas. Gosto de pensar que os seus livros em minha biblioteca foram os responsáveis por isso. E quando releio os textos originais parece-me, às vezes, ouvir a sua voz daquele dia a dize-los. Melhor assim.

para A., que me disse o que escrever