quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Dra. Clara T. Brandão

Dias atrás recebi um repasse de e-mail. O titulo era “Desativado por ser barato. Divulguem.” No corpo da mensagem estava escrito: “Será verdade? Não duvido.”

O texto, com ilustrações era este:
“Pioneira, há mais de três décadas Clara Brandão criou um composto alimentar que revolucionou a nutrição infantil.

A cena foi comovente. O vice-presidente José Alencar preparava-se para plantar uma árvore em Brasília quando foi abordado por uma nissei de 65 anos e 1,60 m de altura. Era manhã da quinta-feira 6. A mulher começou a mostrar fotografias de crianças esqueléticas, brasileiros com silhueta de etíopes, mas que tinham sido recuperadas com uma farinha barata e acessível, batizada de 'multimistura'. Alencar marejou os olhos. Pobre na infância no interior de Minas, o vice não conseguiu soltar uma palavra sequer. Apenas deu um longo e apertado abraço naquela mulher, a pediatra Clara Takaki Brandão. Foi ela quem criou a multimistura, composto de farelos de arroz e trigo, folha de mandioca e sementes de abóbora e gergelim. Foi esta fórmula que, nas últimas três décadas, revolucionou o trabalho da Pastoral da Criança, reduzindo as taxas de mortalidade infantil no País e ajudando o Brasil a cumprir as Metas do Milênio. E o que a pediatra foi pedir ao vice-presidente? Que não deixasse o governo tirar a multimistura da merenda das crianças. Mais do que isso, ela pediu que o composto fosse adotado oficialmente pelo governo. Clara já tinha feito o mesmo pedido ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão - mas ele optou pelos compostos das multinacionais, bem mais caros. 'O Temporão disse que não é obrigado a adotar a multimistura', lamenta Clara. Há duas semanas a energia elétrica da sala de Clara dentro do prédio do Ministério da Saúde foi cortada. Hoje, ela trabalha no escuro. 'Já me avisaram que agora eu estou clandestina dentro do governo', ironiza a pediatra. Mas ela nem sempre viveu na escuridão. Prova disso é que, na semana passada, o governo comemorou a redução de 13% nos óbitos de crianças entre os anos de 1999 e 2004 - período em que a multimistura tinha se propagado para todo o País.
Desde 1973, quando chegou à fórmula do composto, Clara já levou sua multimistura para quase todos os municípios brasileiros, com a ajuda da Pastoral da Criança, reduto do PT. Os compostos da multimistura têm até 20 vezes mais ferro e vitaminas C e B1 em relação à comida que se distribui nas merendas escolares de municípios que optaram por comprar produtos industrializados. Sem contar a economia: 'Fica até 121% mais caro dar o lanche de marca', compara Clara. Quando ela começou a distribuir a multimistura em Santarém, no Pará, 70% das crianças estavam subnutridas e os agricultores da região usavam o farelo de arroz como adubo para as plantas e como comida para engordar porco. Em 1984, o Unicef constatou aumento de 220% no padrão de crescimento dos subnutridos. Dessa época, Clara guarda o diário de Joice, uma garotinha de dois anos e três meses que não sorria, não andava, não falava. Com a multimistura, um mês depois Joice começou a sorrir e a bater palmas. Hoje, a multimistura é adotada por 15 países. No Brasil só se transformou em política pública em Tocantins. Clara acredita que enfrenta adversários poderosos . Segundo ela, no governo, a multimistura começou a ser excluída da merenda escolar para abrir espaço para o Mucilon, da Nestlé, e a farinha láctea, cujo mercado é dividido entre a Nestlé e a Procter & Gamble . 'É uma política genocida substituir a multimistura pela comida industrializada', ataca a pediatra. A coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Zilda Arns, reconhece que a multimistura foi importante para diminuir os índices de desnutrição infantil. 'A multimistura ajudou muito', diz. 'Mas só ela não é capaz de dizimar a anemia; também se deve dar importância ao aleitamento materno.' ISTO É' procurou as autoridades do Ministério da Saúde ao longo de toda a semana, mas nenhuma delas quis se pronunciar. 'O multimistura é um programa que não existe mais', limitou-se a informar a assessoria de imprensa. “

É verdade. Tive a honra de conhecer a Dra. Clara Takaki Brandão em Brasília, em 2005, no prédio da Anvisa II onde ela já amargava o ostracismo oficial num espaçoso gabinete compatível com a sua importância científica, mas só isso. Clara tem um jeito tão natural de fazer com que as pessoas façam as coisas certas que conseguiu introduzir valores nutricionais até no pequeno restaurante próximo dali onde fomos almoçar. Quando manifestei a minha surpresa para a dona do local pela perfeita harmonia entre a cozinha-por-quilo e a alimentação natural ela sorriu e olhando Clara disse: “a culpada é ela.” A Multimistura criada por ela é realmente eficaz e poderia significar a erradicação da desnutrição entre a população de baixa renda. Mas quando é que isto interessou de fato a qualquer governo? Vocês encontrarão na rede “artigos científicos” destinados a desacreditar a proposta e o trabalho dela. Um deles, produzido por três jovens de uma universidade carioca leva a palma da ofensa a inteligência. Ou para agradar o seu orientador ou os orientadores do seu orientador, esmeram-se num discurso que abstrai totalmente os resultados reais obtidos em anos de aplicação da Multimistura. Pior ainda é a abordagem metodológica falsa por ignorar o conceito de minerais-traço, ou oligoelementos ou microminerais. No Brasil, essa matéria médica é de conhecimento geral, ou ao menos deveria ser, desde a publicação da edição brasileira de julho de 1977 das Clinicas Médicas na América do Norte, totalmente dedicado ao assunto. Fazem lembrar a história (real) ocorrida no HC quando um chefe de equipe de ortopedia expulsou um dos seus médicos porque este ousou lembrá-lo de que eles estavam tratando um paciente e não uma radiografia. De acordo com o Dr. Larry Dossey, MD,PhD ( in Healing Words, HarperSanFrancisco, 1993) a oração tem poderes insuspeitados e profundos. Peço-lhes, diante do que lemos acima, que também orem por Clara e para que o seu trabalho possa ser convertido em ações objetivas da parte daqueles que tem a condição de desencadeá-las.